Planet Hemp lamenta 'sequestro da causa' da liberdade de expressão por 'pessoas que querem volta da ditadura'

  • 02/09/2025
(Foto: Reprodução)
A banda Planet Hemp percorre dez capitais do Brasil, entre setembro e novembro, com a turnê ‘A última ponta’ Willmore / Divulgação O Planet Hemp nasceu com gritos pela liberdade de expressão em um Brasil recém-saído da ditadura. Após 30 anos, a banda se despede satisfeita com o legado artístico, mas pessimista pelo que vê como "sequestro" desta pauta por pessoas que, no fim, querem o oposto: a volta da ditadura militar. A partir de setembro, o Planet Hemp começa sua turnê de despedida. Intitulada "A Última Ponta", a série de shows começa por Salvador, no dia 13 de setembro, e termina no Rio de Janeiro, em 13 de dezembro. A banda vai passar também por outras capitais: Recife, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo. Em 1995, eles viraram ídolos de uma juventude que cresceu vendo o país ser silenciado em uma ditadura, mas que já experimentava a liberdade de falar o que pensava sem tanto medo. Foi assim que Marcelo D2, Skunk, Rafael, Formigão e Bacalhau se reuniram para dar voz a uma juventude que ainda não encontrava espaço no mainstream. Sem saberem o que estava construindo, o Planet Hemp ajudou a criar um rap que tinha mais a ver com a cara do Rio de Janeiro. "O Planet foi muito importante nessa parada de fazer um estilo de rap genuinamente carioca. Isso é muito importante dentro do próprio movimento do hip-hop, porque a tendência sempre era ficar parecido com São Paulo", explica B Negão, integrante que chegou à banda depois da morte de Skunk (1967-1994). "A gente queria fazer um som completamente diferente e somar pela diferença", continua B Negão, sendo complementado por Marcelo D2: "pela diversidade". Segundo eles, essa diversidade interna ajudou a consolidar a sonoridade única da banda. "Essa diversidade dentro do Planet Hemp é muito interessante. A gente tem pessoas completamente diferentes, que torna a banda interessante para o grande público também", diz D2. Política e contracultura "A gente veio de um momento pós-ditadura, [Brasil] começando a abrir, falando sobre as coisas e refletindo muito dos nossos mestres do underground", lembra B Negão. Para os músicos, esse peso político ainda acompanha a cena cultural atual. "Essa anistia que aceitaram lá atrás está f*** a gente agora. Essa galera está no comando até hoje", continua o artista. Durante todo o tempo em que a banda esteve ativa — e mesmo nos períodos de hiato — o Planet sempre cutucou feridas de um país que, apesar de curtir a música que eles faziam, ainda se sentia acuado pelo medo das memórias da ditadura, segundo D2. Um reflexo disso foi a prisão do grupo inteiro em 1997, acusados de apologia às drogas durante um show no Rio de Janeiro, justificado pelas letras que falavam sobre o consumo de maconha. O primeiro disco do grupo se chama "Usuário" e contava com hits como "Legalize Já", que se transformou em uma espécie de hino pela legalização e regulamentação da venda e consumo da erva. A maconha sempre esteve no centro da obra do grupo, mas o discurso, segundo eles, vai além da polêmica. "Para brancos, ricos, que moram em condomínios, a maconha é legalizada; para o resto, não", diz D2. O episódio daquele ano marcou a história da banda e é lembrado até hoje quando artistas enfrentam acusações semelhantes. "A parada do Poze (do Rodo) teve esse lance de apologia num primeiro momento e aí eles viram que isso, de repente, nem iria colar, inclusive por conta de todo o debate que já tinha acontecido em relação ao Planet há quase 30 anos", afirma Daniel Ganjaman. A investigação que prendeu Poze do Rodo apontou que as músicas do artista faziam apologia ao tráfico de drogas e ao uso ilegal de armas de fogo, além de incitar confrontos armados entre facções rivais. Segundo os artistas, o discurso está muito ligado à onda conservadora que invadiu o país nos últimos anos. "Os conservadores do Brasil são muito engraçados. Eles são envolvidos com tráfico de drogas, com golpe militar, que falam da família brasileira e não honram a própria família", comenta B Negão. "E aí os caras vêm com uma pauta moral, sendo que não seguem nada daquilo", continua. Depois de anunciar o fim da banda, o Planet Hemp prepara turnê de despedida pelo Brasil Liberdade de expressão "O Planet falava de liberdade de expressão no pós-ditadura. Agora, os filhotes da ditadura militar dizem que querem liberdade de expressão para pedir a volta da ditadura", opina B Negão. Os artistas criticam como esse discurso foi deturpado nos últimos anos. "Sequestraram as nossas causas, agora essa galera usa liberdade de expressão para cometer crime. É um olhar elitista para o mundo", diz D2. Legado aceso Marcelo D2 resume o espírito do grupo: “Nada nos foi dado”. A banda, que alcançou o mainstream com um discurso contundente e provocador, encerra a carreira mantendo a mesma intensidade. “A gente tem uma garra e uma vontade que as coisas aconteçam fortes para c***”, afirma D2. “Queremos acreditar em alguma coisa diferente, mesmo em um momento em que estamos desacreditados demais”, acrescenta D2. Ele destaca que essa postura mantém vivo o legado do grupo.

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/diversidade/noticia/2025/09/02/planet-hemp-lamenta-sequestro-da-causa-da-liberdade-de-expressao-por-pessoas-que-querem-volta-da-ditadura.ghtml


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